
“A pureza da minha consciência, eis a fonte da minha alegria”.
Para permanecer fiel à sua consciência, Sir Thomas More, o grande humanista e o Lord chanceler do reino de Henrique VIII, recusa reconhecer o rei como o autoproclamado chefe da nova igreja inglesa, inventada por ele próprio. Apesar de ser tratado com crueldade durante os quinze meses de encarceramento na Torre de Londres que precederam a sua decapitação, apesar da oposição do seu rei, dos bispos de Inglaterra, e da maioria dos seus amigos e mesmo da sua família (incluída, de certo modo, a sua querida filha Margaret), Thomas More permanece sempre fiel às suas convicções.
Thomas More foi um exemplo brilhante de alegria e de amizade, duas virtudes inseparáveis. Eis um retrato do seu amigo Erasmo: “A sua atitude é coerente com o seu caráter. É amável e alegre, sem risco de exageros. More nasceu para a amizade. Ele é o amigo mais fiel e mais constante que se pode imaginar. Quando encontra uma pessoa sincera e segundo o seu coração, goza a sua companhia como se isso fosse o maior encanto da existência. Numa palavra, se procurais um modelo de amizade, não encontrareis melhor que Thomas More.”
More é um bom modelo do tipo de caráter sanguíneo puro: sempre sorridente, é um conversador e um comunicador nato. Mas é também profundo, constante e fiel. Apesar de ser, por temperamento, do tipo sanguíneo e a sua amizade com o rei ser como que sagrada, ele sacrifica tudo e resiste-lhe para salvar a integridade da sua consciência.
Para Sir Thomas More, a política é uma noção bem mais elevada do que a busca de poder e de vantagens pessoais. A política é uma forma de serviço que exige profissionalismo, uma preparação específica através do estudo da História, do Direito, da cultura e, sobretudo, da natureza humana: da sua grandeza e fragilidade. Depois de se ter graduado em Direito, Thomas passa as primeiras horas da manhã, todos os dias durante 14 anos, a estudar a tradição clássico-cristã, num esforço sincero por encontrar verdadeiras soluções para os problemas da vida humana.
A magnanimidade de Thomas More pode ser resumida numa frase: “A dignidade da minha consciência!” Ele opõe-se corajosamente às tentativas de manipular a sua consciência, feitas pelo poder de então, a essa constante tentação dos governantes que não reconhecem mais nenhum poder senão o seu próprio. Para se manter fiel a princípios irrevogáveis, dos quais depende a dignidade humana, a felicidade dos povos e uma sociedade civil decente, Thomas More sacrifica tudo o que o mundo lhe poderia oferecer: para isso, bastaria ceder.
“A pureza da minha consciência”, afirmava, “eis a fonte da minha alegria”. Thomas pratica a justiça “em nome da verdade e da sua consciência”, escreveu William Shakespeare na sua última peça, Henrique VIII. Para Thomas More, a política não pode ser separada da ética.
Como Sócrates, Thomas recusou deixar-se manipular pela opinião pública populista. Recusou qualquer compromisso com o erro. A magnanimidade consiste fundamentalmente em compreender o sentido da dignidade humana.
Thomas More “foi a pessoa de maior virtude que a Inglaterra já conheceu”, escreveu Jonathan Swift, 200 anos depois da morte de Sir Thomas. E em 1929, G. K. Chesterton escreveu: “Thomas More representa um ponto de viragem fundamental… Ele é mais importante hoje do que em qualquer outro momento do passado, desde a sua morte. Mas a sua importância real só a veremos dentro de cem anos”.
É célebre a frase de Lord Acton: “O poder corrompe, o poder absoluto corrompe absolutamente”. Na realidade, o poder ajuda as pessoas virtuosas a crescer. O poder não corrompeu Thomas More. Bem pelo contrário, foi no exercício do poder que Thomas More se tornou S. Tomás More.